terça-feira, junho 17, 2008

Quantidade de água gasta, na tentativa de lavagem dos pecados dúbios, ora pelo bem, ora pelo mal; os piedosos e os maldosos, reuniram-se nas grutas escuras da essência terrestre e sussurraram as maleficências do corpo, e da mente.

Perdidos em filosofias, sem efeito, forma ou coração, racionalidade ou sentimento, acabaram a descurar o respeito mútuo, cobiçaram as formas que não viram; soubessem eles que os maldosos são corcundas e os piedosos pelados, com cabeça de porco, não se tocariam, mas o mundo é movido por desejos, e pela energia dispendida na concretização dos mesmos; acabaram colados, no maior bacanal que o interior da terra alguma vez assistiu, como nunca nos passará pela cabeça, o que a imaginação não poderá alcançar, copularam, numa cópula inatingível, gemeram de dor, essencialmente, mas muito de prazer, gritaram incompreensíveis comunicações, rugiram animalescos, e carnes arrancaram…

Romperam-se lavas profundas, arderam florestas perdidas, derrocaram montanhas solitárias, dilaceraram entranhas próprias, terminou tudo numa calmaria, onde o silêncio foi o companheiro da guerra travada; piedosos e maldosos, estendidos, no escuro, comidos, esgotados, prenhes da pior essência que se veio a conhecer, o Homem.

Com o que nunca se pensa ver, vê-se de tudo, com a venda nos olhos, um mundo triste, amolgado, florido, crescido, com a bola de carne no cerne, e a força de mil leões, recostados na savana, numa sombra vadia, que ora está, mas não pertence a nada, nem ninguém.


De costas voltadas ao dito, não sabe, não vê, não crê, simplesmente cresce selvagem, cabelos ao vento e ideias voláteis, dores de dentes ou de costas, pouco importam, não há nada maior que a dor de alma.


segunda-feira, junho 02, 2008


Passa a mão pela minha pele e diz-me o que sentes, para que te possa contar o que vejo, o arrepio que se prende na espinha e sabor que me vem à boca…
Doce desejo que me consome as entranhas a velocidades alucinadas, trazes na boca, que me beija, o veneno da prisão.
Prendes-me as mãos atrás das costas, magoas-me e sabes disso, queres-me submissa, mordo-te a língua num beijo sôfrego, que colas na minha boca, libertas-me em grito de agonia e chamas-me “Puta!”…
Fujo para um dos cantos das quatro paredes que nos rodeiam… o meu olhar desafia-te, o meu corpo arde de desejo, mas nunca te suplicarei… queres? Vem buscar, pode ser consigas…
Consegues sempre, nunca da mesma forma, mas acabamos como animais, deitados no chão em gemidos uno, em silêncios oportunos, consumimo-nos nas investidas desta dança que é o sexo, e não paramos no culminar do orgasmo, não… ainda agora começou.

Nem sempre o corpo consumido é livre




A largo passo, distraída, olhando em vão para um horizonte que não consigo ver, que se mostra em linhas pouco criadas, ou então sou eu que não tenho olhos para ver o real que a vida tem para mostrar, posso simplesmente estar frente a um horizonte que não foi criado para mim, estou frente ao muito, e ao pouco, ao que nem quero ver, ou saber. Vejo o que não vejo, sinto o que me toca, mas não o que me fala, oiço apenas o que me olha nos olhos, e nem sempre, por vezes, simplesmente, deixo contornar-me o corpo, com mãos que me são raras… o toque é uma coisa que me aflige...


Torcida vou, num corpo que teima em fugir, correr quando estou cansada, e parar quando estou com pressa. Na mente trago o mundo ao contrário, vem também como muito sangue, mostra-se contaminado de coisas estranhas, densas e sumidas, o sangue vem como vital que é e o chão é feito de mosaicos pretos, contornados a laranja…


Perdida me sinto, com o passar do tempo ainda mais. Quando olho para direcções que não quero seguir e o meu corpo, com a obrigação se move para lá. Sinto-me gado empurrado, peça de roupa largada, desprezada… o valor que nos dão não é mais importante que o valor que nos damos a nós prórpios…


Atravesso, descalça e a passo miúdo, de quem leva o temor de um mundo desconhecido, de quem teme o que vem lá, de quem não quer, de quem não gosta desta vida, de quem sente uma agonia só por acordar, de quem vomita só por neste chão andar…